ONU Alerta Para Tráfico de Pessoas Devido à “Vulnerabilidade
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para a existência de uma vulnerabilidade estrutural na província de Cabo Delgado, no Norte do País, que tem vindo a potenciar redes de tráfico de pessoas, na sequência dos ataques levados a cabo por grupos extremistas desde 2017. A informação foi divulgada esta segunda-feira, 28 de Julho, pela agência Lusa. “Em Moçambique, só na região Norte, cerca de um milhão de pessoas foram deslocadas devido à violência extrema. Estas comunidades enfrentam uma vulnerabilidade estrutural que é, infelizmente, fértil para redes de tráfico de pessoas”, afirmou António de Vivo, chefe da missão dos Escritórios das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) em Moçambique, durante o Fórum académico sobre o tráfico de pessoas, realizado em antecipação ao Dia Internacional de Luta contra o Tráfico de Pessoas, que se assinala a 30 de Julho. António de Vivo sublinhou que o combate ao tráfico humano não se resume a uma questão legal, sendo igualmente um desafio social, cultural, institucional e profundamente humano. A pobreza, o medo, o estigma e a impunidade são factores que agravam a prática deste crime. “O que torna este crime ainda mais doloroso é que, muitas vezes, ele ocorre diante dos nossos olhos, silenciado pelo medo, pobreza, estigma e impunidade”, lamentou o responsável das Nações Unidas. Descrevendo o tráfico de pessoas como uma violação flagrante da dignidade humana, António de Vivo assegurou que a ONU continuará a prestar apoio institucional ao País através de acções estratégicas, com vista ao reforço da capacidade técnica e operacional dos actores envolvidos na prevenção e combate ao fenómeno. No mesmo evento, a procuradoria-geral da República (PGR) alertou para o uso crescente de plataformas digitais no recrutamento de vítimas, o que torna o combate ao tráfico humano mais desafiante. “As redes de tráfico organizado lucram com a exploração das vítimas que são recrutadas actualmente, por diversas formas, incluindo as plataformas digitais”, afirmou a procuradora-geral adjunta, Amabélia Chuquela. As comunidades enfrentam uma vulnerabilidade estrutural que é, infelizmente, fértil para redes de tráfico de pessoas O Ministério Público apelou à mobilização das instituições académicas, em articulação com o Estado e a sociedade civil, para reforçar a resposta nacional ao tráfico humano. Só no primeiro semestre deste ano, foram registados pelo menos cinco processos de tráfico interno para fins de exploração sexual e laboral nas províncias de Maputo, Niassa, Tete e Sofala. Relativamente ao tráfico com ligações internacionais, foram instaurados dois processos-crime em curso no Gabinete Central de Combate à Criminalidade Organizada e Transnacional. Amabélia Chuquela reconheceu ainda, já a 3 de Junho, que as operações das redes de tráfico humano em Moçambique tornaram-se mais sofisticadas, dificultando a sua investigação e identificação pelas autoridades. De acordo com um estudo publicado em Fevereiro pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), entidade académica do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques perpetrados por grupos extremistas islâmicos no Norte do País em 2024, o que representa um aumento de 36% em relação ao ano anterior. A instituição destaca que esta escalada de violência reflecte a estratégia do grupo Al-Sunna wa Jama’a (ASWJ), afiliado do Estado Islâmico, que opera em Cabo Delgado e tem procurado alargar o conflito para zonas mais interiores e rurais.advertisement



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