Carlos Serra afirma que “o estatuto da UNESCO aprimorará
O Diário Económico conversou esta segunda-feira, 14 de Julho, com Carlos Serra, ambientalista e director da Cooperativa de Educação Ambiental Repensar, para analisar o impacto da recente inscrição do Parque Nacional de Maputo na Lista do Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. No passado domingo, 13 de Julho, durante a 47.ª reunião do Comité do Património Mundial em Paris, o parque foi reconhecido pelos seus valores naturais excepcionais, integrando ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos – desde mangais e recifes de coral até dunas e zonas húmidas. “Com esta espantosa notícia, podemos esperar, logicamente, uma maior visibilidade do parque extra‑fronteiras, o que tornará o destino privilegiado para o ecoturismo, um turismo de contemplação da natureza, amigo do ambiente”, começou por explicar Serra, lembrando o esforço conjunto que envolveu uma equipa nacional, o Governo e o apoio da Peace Parks Foundation.advertisement Segundo o ambientalista, o estatuto UNESCO abre também a porta ao acesso a financiamento externo. “Isto terá sempre um potencial para gerar um aumento de recursos e financiamento, incluindo financiamento externo, principalmente orientado para sítios de Património Mundial”. Projectos de conservação, educação ambiental formal e não formal, desperdício zero e economia circular podem agora contar com verbas específicas e programas internacionais. Para as comunidades locais, o impacto poderá ser ainda mais significativo: “É importante compreender que qualquer impacto positivo neste sentido é benéfico para as comunidades que vivem nos arredores do parque, pois há sempre potencial de geração de maiores receitas e de benefícios directos, quer através do turismo, quer mediante apoios financeiros para desenvolvimento comunitário.” Segundo o ambientalista, o estatuto UNESCO abre a porta ao acesso a financiamento externo. Carlos Serra destacou ainda o impulso à investigação científica: “Há um aumento de oportunidades para a investigação científica, que esperamos venha a fortalecer-se com este estatuto. Outras áreas de conservação poderão aprender desta experiência tão bem‑sucedida, que levou alguns anos a ser preparada e que poderá inspirar novas candidaturas a Património Mundial.” Apesar do entusiasmo, o ambientalista alertou para desafios persistentes. Na frente das infra‑estruturas, salientou o risco colocado pelo projecto do Porto de Águas Profundas em Tecobanine: “Agora, com esta proclamação do parque como Património Mundial, todo o cuidado será pouco para que não haja nenhum impacto negativo neste esforço enorme que foi desencadeado e com sucesso.” Quanto à convivência entre pessoas e fauna, Serra sublinhou: “Há sempre conflito homem‑animal. Recentemente vimos que um cordão sanitário está a ser construído para mitigar esse conflito, mas é preciso continuar o trabalho para garantir a segurança das culturas e do património das populações locais.” O ambientalista referiu também a ameaça da caça e pesca furtivas, embora reconheça progressos: “O cenário está muito melhor do que no passado, mas ainda há quem se aventure nessas práticas ilegais.” Por fim, chamou a atenção para a poluição plástica. “A poluição continua a afectar gravemente a biodiversidade costeira. Resíduos chegam tanto por via terrestre, com despejo indiscriminado, como vindos de alto mar, tornando essencial um reforço dos esforços de limpeza e prevenção a todos os níveis”, concluiu Carlos Serra. Com 1718 quilómetros quadrados, o Parque Nacional de Maputo une a Reserva Especial de Maputo e a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, tornando‑se um exemplo de conservação transfronteiriça ao lado do parque sul‑africano iSimangaliso. Texto: Felisberto Ruco
Publicar comentário