“Vamos Entrar Numa Fase de Grande Expansão Económica” •

“Vamos Entrar Numa Fase de Grande Expansão Económica” •

advertisemen tO Standard Bank celebra 130 anos em Moçambique como um actor central no desenvolvimento do sistema bancário nacional. À E&M, o administrador-delegado, Bernardo Aparício, recorda o passado sem deixar de olhar o papel futuro do banco no financiamento aos principais sectores da economia nacional À frente dos destinos do Standard Bank Moçambique há três anos, Bernardo Aparício acredita que Moçambique está prestes a viver uma transformação económica profunda. Acredita que com o retorno dos grandes investimentos no sector energético e logístico, o País pode duplicar o seu PIB. Mas para isso, é preciso atravessar com visão de longo alcance o momento de transição em que nos encontramos. Estamos na recta final do ano comemorativo dos 130 anos do Standard Bank em Moçambique. Que significado é que este marco histórico tem para o banco?Desde há 130 anos, o Standard Bank tem sido mais do que uma instituição financeira. Na prática, temos sido um parceiro do desenvolvimento económico e social de Moçambique. Temos estado nas etapas mais importantes que o País atravessou. Celebrar 130 anos é um privilégio, porque nem todas as empresas e negócios resistem no mesmo formato por tanto tempo. É uma responsabilidade que levamos muito a sério em dois aspectos: solidez e ‘compliance’. Os nossos clientes e colaboradores esperam que um banco com esta longevidade seja uma referência em termos de boas práticas. Esta é uma responsabilidade bastante grande. Por outro lado, em termos de inovação, ao longo deste período, temos sido pioneiros numa série de iniciativas, desde as de ordem tecnológica, soluções para os clientes, até coisas como a governação corporativa, que é algo muito importante para nós. Olhando para trás, é possível estabelecer um paralelismo entre o crescimento do banco, a sua expansão por todo o País e a própria história económica de Moçambique? Sem dúvida. Desde a nossa implementação temos estado intimamente ligados ao desenvolvimento do País e das infra-estrutura. No passado, estivemos ligados à criação das ligações ferroviárias e portuárias, quer na Beira, quer em Maputo, que têm sido, historicamente, muito importantes para o desenvolvimento do País. Nos últimos 50 anos, temos a destacar ainda vários investimentos nos quais fomos parceiros e temos um papel relevante no seu desenvolvimento: desde a ligação rodoviária da TRAC; na área de energia, financiámos as primeiras centrais eléctricas independentes como o projecto de Ressano Garcia; na logística, financiámos os corredores de Nacala e Beira-Machipanda (no de Nacala fomos consultores financeiros do projecto, um papel muito relevante); no gás, financiámos a plataforma flutuante da ENI, a Coral Sul. São exemplos que demonstram a capacidade que temos tido de organizar financiamentos vários, estruturantes e críticos para o País. Como é que essa experiência acumulada se projecta no presente e no futuro do banco, especialmente nas áreas de energia e infra-estruturas, que se perfilam como estratégicas para o desenvolvimento económico do País? Antevemos que Moçambique esteja a entrar num período de grande expansão económica alicerçada, em teoria, nesses dois sectores: energia e infra-estruturas. No da energia, claramente, o retorno dos projectos de gás da Área 1, a decisão final de investimento da Área 4, e o projecto FLNG de Coral Norte. Podemos dizer que daqui a 12 meses teremos projectos em desenvolvimento acima de 50 mil milhões de dólares, que é mais do que duas vezes o PIB actual do País. Isto vai ter um impacto massivo na economia. Já tivemos uma experiência similar aquando do desenvolvimento da exploração de carvão em Tete, no início da década de 2010. Vimos as taxas de crescimento económico de 5%, 6%, 7% que existiram nesse período e é isso que estamos à espera que aconteça. Segundo, temos visto um grande foco nas ligações logísticas com o “hinterland”. Moçambique tem, realmente, a oportunidade de ser a porta destes países para o mundo. Já temos corredores ferroviários e rodoviários em condições para poder fazer o escoamento de várias matérias-primas que estes mercados produzem. Mas há mais investimentos por fazer que podem tornar Moçambique a concorrer directamente com o corredor do Lobito (Angola), por exemplo. De um modo geral, estamos a entrar numa fase de expansão económica e o Standard Bank está muito bem posicionado para continuar a ser um parceiro do País ao nível do desenvolvimento económico. “Historicamente, o Standard Bank Moçambique tem sido um banco que impulsiona o crescimento das cadeias de valor‑chave para o funcionamento da nossa economia” Como é que o Standard pode efectivar-se como esse tal “parceiro”, como lhe chama, não só da economia, como também do universo empresarial, especialmente das PME nacionais? Historicamente, o Standard Bank Moçambique tem sido um banco que impulsiona o crescimento das cadeias de valor-chave para o funcionamento da nossa economia. Fizemo-lo quando foram desenvolvidos o carvão e os corredores logísticos. Sempre apoiámos os grandes projectos e toda a cadeia de valor associada. Portanto, temos sempre um foco na criação de impacto nas cadeias de valor. E uma parte-chave destas são as PME, que fornecem bens e serviços ao longo de todas estas cadeias de valor. Dentro do nosso ADN está a criação de soluções e de produtos específicos para estas empresas como por exemplo o desconto de facturas, apoio no investimento ou na emissão de garantias bancárias. São produtos que sempre desenhamos com este foco mas temos desenvolvido outras iniciativas, pacotes e incentivos mais pontuais às PME. Em 2021, por exemplo, disponibilizámos um fundo de 18 milhões de meticais para empresas, no âmbito do projecto ‘Acelera’, entre vários projectos de apoio às PME, sendo um dos principais a Incubadora Standard Bank. Como é que um banco sistémico e de referência como o Standard Bank pode contribuir para a melhoria do ambiente de negócios? O Standard Bank contribui para a melhoria do ambiente de negócios através de dois vectores principais: inclusão financeira das empresas, com foco na capacitação em gestão, e nas boas práticas de governação corporativa que aplicamos. A esse nível é um exemplo a composição do nosso Conselho de Administração com uma maioria de administradores independentes. Estes princípios servem de modelo para o sistema bancário e ajudam a tornar as decisões mais transparentes e benéficas para os clientes e o mercado. Iremos, de resto, em breve, organizar uma conferência específica sobre a governação corporativa para debater e entender melhor como isso pode melhorar o ambiente de negócios através de decisões mais transparentes, escrutinadas e que tragam mais valor para os accionistas e para o País em geral. Tem falado muito sobre como a digitalização é uma aposta grande destes seus primeiros três anos de mandato. Em que medida se reflecte no banco esta mudança? Logo desde o início do nosso trabalho no banco que apostámos fortemente na digitalização, numa linha de continuidade com a tradição de inovação do Standard Bank ao longo dos seus 130 anos (pioneiros nos ATM, POS e canais digitais em Moçambique). Nos últimos três anos, o foco esteve na modernização da arquitectura tecnológica, tanto ao nível da infra-estrutura como dos sistemas centrais, para responder ao rápido crescimento das transacções digitais e às exigências do mercado. Investimos mais de 20 milhões de dólares na actualização para equipamentos de última geração, com capacidade para suportar volumes actuais e futuros de operações, assegurando eficiência, segurança e consistência. Paralelamente, lançámos soluções inovadoras como o QuiQMola (um empréstimo 100% digital), e avançámos na automatização de processos e no uso de inteligência artificial (IA), com vista a tornar a banca mais preditiva e orientada para as necessidades dos clientes. As carteiras móveis continuam a ser vistas pelo Standard Bank como parceiras estratégicas para a inclusão financeira ou há sinais de que poderão tornar-se concorrência directa, sobretudo tendo em conta que algumas já concedem crédito? Um exemplo bem-sucedido da relação entre carteiras móveis e bancos é o projecto de interoperabilidade, que permite que clientes de carteiras móveis e bancos façam transacções entre si, com forte impacto na inclusão financeira. Esta iniciativa levou, inclusive, à redução de custos nas carteiras móveis, beneficiando os utilizadores. Actualmente, há muitos fluxos entre bancos e carteiras móveis. Nesta lógica, vemos as carteiras móveis como o primeiro passo para a bancarização. Clientes com negócios informais, por exemplo, evitam inicialmente a burocracia e os custos bancários, mas, ao formalizar as suas actividades, fazem, naturalmente, a transição para uma conta bancária. As carteiras móveis criam o hábito de saber o que é saldo, uma transacção… e, por isso, têm um papel importante como porta de entrada para muitos moçambicanos no sistema bancário. Claro que há zonas onde ambos operam, como os pagamentos de serviços e isso obriga bancos e carteiras móveis a serem melhores. Esta concorrência saudável desafia os bancos a melhorarem os seus processos, canais e experiência do cliente. “Nos últimos três anos investimos mais de 20 milhões USD na actualização para equipamentos de última geração, com capacidade para suportar volumes actuais e futuros de operações com eficiência, segurança e consistência” Passam, agora, três anos depois do início do seu mandato como CEO do Standard Bank. Entrou num momento difícil do banco que foi, entretanto resolvido. Gostava que destacasse alguns dos momentos essenciais do seu mandato. Nestes três anos, o percurso tem sido marcado por um forte trabalho em equipa, com uma gestão focada na melhoria da relação com o cliente, na gestão de risco e na inovação tecnológica. Destaco, sobretudo, a transformação cultural do banco, centrada nas pessoas, que envolveu iniciativas co-criadas por equipas multidisciplinares, um esforço que tem sido reconhecido pelo prémio Top 10 Elite Employer nos últimos quatro anos. Paralelamente, modernizámos a infra-estrutura tecnológica, melhorando a experiência do cliente e processando volumes elevados de transacções. Trabalhámos com o Banco de Moçambique na superação de lacunas identificadas, fortalecendo a nossa posição regulatória. E conseguimos atrair e reter talento com visão de futuro e mantivemos resultados financeiros robustos, com rácios sólidos. Diante da conjuntura internacional complexa e dos desafios internos, como cortes na ajuda norte-americana, tensões pós-eleitorais, guerra na Rússia… quais são as suas previsões económicas para o País? O essencial para alavancar o crescimento económico de Moçambique passa pela retoma de projectos estruturantes de grande escala, como aconteceu no passado com a Mozal e a Vale. Esses projectos têm o potencial de atrair investimento externo, gerar exportações e aumentar a disponibilidade de divisas no País. A expectativa é que, com o arranque dos projectos de gás, se inicie uma nova fase de crescimento. Contudo, o risco principal reside em choques externos, como uma subida acentuada do preço do petróleo, que podem fragilizar esse equilíbrio. Estamos num momento de transição e é crucial atravessá-la com visão de longo prazo. Qual gostaria que fosse o seu legado institucional? Gostaria que o nosso legado estivesse muito associado ao nosso propósito e ao impacto que temos tido nos últimos 130 anos. Queremos ser a organização que mais contribui para o crescimento de Moçambique e mais valor cria para o País. Este seria um legado que nos iria deixar muito orgulhosos. BI BERNARDO APARÍCIO Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, Portugal (2001), seguido de uma Especialização em Finanças Empresariais pelo CEMAF – ISCTE, Portugal (2003) e o General Management Program na Harvard Business School, EUA (2021), tem mais de 23 anos de experiência no sector financeiro, e mais de 11 em Moçambique, tendo ocupado posições de liderança em várias áreas, particularmente na Banca de Investimento, a nível local e regional em Portugal, Reino Unido e Moçambique. Texto: Pedro Cativelos • Fotografia: Mariano Silva & DRa dvertisement

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