Economistas Alertam Que Capitalização só Resultará “Com Maior Ética e Transparência”
Uma das empresas do Sector Empresarial do Estado (SEE) que mais causam preocupação ao Executivo é a Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), cujo desempenho negativo tem sido alvo de críticas por parte da população, que se queixa dos elevados preços praticados e da frequente falta de pontualidade dos voos.
Escrita Por: Administração |
Publicado: 10 hours ago |
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Categoria: Economia
Num novo esforço para revitalizar a companhia aérea, que se encontra em situação crítica há anos, o Governo decidiu, na terça-feira, 4 de Fevereiro, vender 91% das acções do Estado na empresa através de negociação particular. O Executivo autorizou ainda as empresas públicas EMOSE (Empresa Moçambicana de Seguros), CFM (Caminhos-de-Ferro de Moçambique) e HCB (Hidroeléctrica de Cahora Bassa) a adquirirem a participação estatal na transportadora.
Sendo esta uma nova medida estruturante no SEE, desde a entrada do novo Executivo, com foco na LAM, o DE analisou, junto de vários economistas, as possíveis vantagens e desvantagens da decisão. Estes consideram que a necessidade de capitalizar a empresa é evidente, contudo, sublinham que é essencial que o novo Governo implemente medidas de transparência e combata a corrupção para garantir a sustentabilidade da companhia.
Problemas de Transparência e Corrupção
“Algumas decisões empresariais, estratégicas e de investimento na LAM não foram compatíveis com a geração de lucro. Um exemplo foi o aluguer de um avião cargueiro, que permaneceu inoperacional por um ano, causando prejuízos significativos à companhia e, consequentemente, ao Estado”, explicou o economista Egas Daniel, tendo acrescentado que a rota Maputo-Lisboa também não se revelou rentável para a empresa e que “o acordo com a Fly Modern Ark não teve o efeito desejado na maioria das operações da LAM.”
Já para Salvado Raíssa, economista e gestor de projectos no Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD), a intervenção do Governo na LAM não pode estar exclusivamente centrada na questão financeira. “A LAM tem problemas estruturais na sua gestão, transparência e eficiência. Antes de discutir quantos voos a empresa realiza e quanto factura, é necessário abordar a sua gestão e a questão da transparência. Um dos principais problemas apontados pela Fly Modern Ark, durante a sua gestão da LAM, foi a existência de corrupção danosa”, lembrou.
Salvado Raísse
Raíssa alerta que, caso esses problemas persistam, o risco de o Governo ser obrigado a financiar novamente a companhia ou a intervir financeiramente é elevado. “Se recordarmos, o Executivo afirmou, há um ano e meio, quando a Fly Modern Ark entrou no País, que a expectativa era transformar a companhia, mas muitos dos problemas estruturais permaneceram”, destacou.
Viabilidade do Modelo de Gestão
O economista Clésio Foia analisou o modelo de transferência de participações para outras empresas estatais e alertou que tal estratégia pode limitar a implementação de práticas de gestão características do sector privado, como eficiência na tomada de decisões, foco em resultados e inovação. “A concentração de participações em empresas públicas pode conduzir a uma centralização do poder económico, tornando o Estado o principal agente económico do País, o que pode resultar em menor competitividade e eficiência”, alertou.
Egas Daniel, por outro lado, considerou que o modelo de gestão pode ser vantajoso, pois a LAM permanecerá sob controlo de empresas estatais lucrativas, assegurando a continuidade da sua missão estratégica de ligação entre províncias economicamente inviáveis. “As empresas envolvidas na compra da LAM têm boa rentabilidade e distribuem dividendos ao Estado”, afirmou.