As propostas não vinculativas são esperadas até ao fim do mês de fevereiro. A Bain Capital, o Brookfield, o Blackstone, o Cerberus, o Fortress, o Davidson Kempner Capital Management, o H.I.G. Capital e o Kildare Partners são os candidatos que se perfilam para entregar propostas. Esta venda da ECS ajuda os bancos.
Escrita Por: Administração | Publicado: 3 years ago | Vizualizações: 24 | Categoria: Economia
A ECS – Sociedade Gestora de Fundos de Capital de Risco, liderada por António de Sousa e Fernando Esmeraldo, está a contar receber as propostas não vinculativas para a compra dos fundos de recuperação por si geridos até ao fim do mês de fevereiro, sabe o Jornal Económico.
Na corrida, segundo revelaram fontes próximas ao processo, estão sete fundos internacionais até ao momento. Mais concretamente a Bain Capital, o Brookfield, o Blackstone, o Cerberus, o Fortress, o Davidson Kempner Capital Management, o H.I.G. Capital e o Kildare Partners. Mas ainda há outros que poderão decidir avançar até ao fim do mês, como por exemplo a Arrow/Norfin que, segundo as nossas fontes, pode avançar se entretanto integrar um consórcio.
A Lone Star, ao contrário do avançado na sexta-feira, não está na corrida aos fundos de reestruturação da ECS Capital. Recorde-se que a Lone Star é dona de 75% do Novo Banco, que é uma das instituições que tem elevada exposição a estes fundos de reestruturação.
O processo organizado de venda da ECS começou por contemplar 100% do FLIT 100% do Fundo Recuperação Turismo e quatro ativos/imóveis do Fundo Recuperação, revelou ao Jornal Económico fonte conhecedora do processo. No entanto, este perímetro pode mudar entretanto, pois tal como revelou António de Sousa, fundador da ECS, ao Económico, há interessados para vários perímetros de ativos, incluindo para a própria sociedade gestora ECS Capital.
Os três maiores fundos que estão à venda valem quase 1,5 mil milhões de euros (este é o net asset value das unidades de participação dos fundos), tal como revelou o Jornal Económico na edição impressa da passada sexta-feira. Esta é uma boa notícia para os bancos que são os detentores das unidades de participação do Fundo Recuperação, do Fundo Recuperação Turismo e do FLIT.
Os bancos têm de ter os títulos (unidades de participação dos fundos) obrigatoriamente contabilizados ao justo valor através de resultados. As unidades de participação detidas em fundos de reestruturação são assim contabilizadas tendo por base o valor líquido contabilístico (net asset value) divulgado pelas Sociedades Gestoras, que poderá ser ajustado em função de informação, análises ou avaliações independentes que os bancos considerem necessárias para determinar o seu justo valor, dando resposta a orientações do Banco Central Europeu.
Nos últimos anos os bancos têm vindo a constituir imparidades para o valor dos fundos, o que significa que os reavaliam em baixo face ao net asset value deste fundo, calculado pela sociedade gestora do fundo (que inclui e ECS). A exceção é o Novo Banco, que só teve liberdade para fazer essa reavaliação em 2019.
No relatório do primeiro semestre o Novo Banco explica que o banco teve de fazer uma reavaliação das suas participações no Fundo de Recuperação FCR, Fundo Recuperação Turismo, FLIT (entre outros) e daí resultou o registo de uma perda 260,6 milhões de euros que afeta a conta de resultados de 2020.
“O Novo Banco solicitou uma avaliação independente a uma empresa de consultoria internacional em articulação com empresas de consultoria imobiliária. Deste trabalho resultou um valor de mercado de 557,2 milhões de euros para a totalidade do investimento detido nestes ativos, o que levou ao registo de uma perda de 260,6 milhões de euros no primeiro semestre de 2020 registado na rubrica de ganhos ou perdas com ativos financeiros obrigatoriamente contabilizados pelo justo valor através de resultados”, lê-se no relatório e contas de junho de 2020. Mas esta perda registada não se refere apenas aos fundos de reestruturação geridos pela ECS Capital, mas sim a toda a exposição do banco a este tipo de fundos.
O Novo Banco detém na sua carteira “Legacy” posições em seis fundos de reestruturação (Fundo de Recuperação FCR, Fundo Recuperação Turismo, FLIT, Fundo Reestruturação Empresarial, Aquarius e Discovery).
“As regras de contabilidade internacionais exigem que estas posições sejam reconhecidas nas contas do Novo Banco ao seu justo valor. No caso do Novo Banco, o “Supervisory Review and Evaluation Process” (SREP) conduzido pelo BCE determinou, em 2018, que o Novo Banco teria de proceder a uma atualização do justo valor destes fundos. No entanto, o acordo associado ao mecanismo de proteção de capital assinado em 2017 com o Fundo de Resolução impedia, em cláusula específica sobre o tema, que se procedesse antes de outubro de 2019 a uma atualização destas posições”, explicou o Novo Banco em comunicado ao mercado.
Assim o Novo Banco, em cumprimento da orientação do BCE, recorreu, no final de 2019, aos serviços de uma entidade internacional especializada e independente para obter a referida atualização. Foi escolhida a Alvarez & Marsal, empresa que tinha trabalhado com o Banco em 2016 no Plano de Redução de NPLs.
Qual é a exposição de cada banco a este fundo FLIT?
No FLIT-Ptrel SICAV, que foi constituído em 2011, as unidades de participação são 29,7% do Millennium BCP; 36,2% da CGD; 28,8% do Novo Banco e 5,3% da Oitante.
O FLIT é um fundo que tem um prazo até 31 de outubro de 2031 (prorrogável até 2035), e investiu em em empresas em insolvência ou com dificuldades financeiras relacionadas com lazer, imobiliário e Turismo, destacando-se de entre os Ativos do Fundo, o Vale do Lobo, o Conrad Algarve Quinta do Lago, o Colombos Resort em Porto Santo e a Vigia.
No caso do FLIT o net asset value é de 759 milhões de euros.
O BCP tem registado no balanço do banco o fundo FLIT ao valor de 751 milhões de euros. Mas a CGD tem o FLIT reavaliado por 569 milhões no seu balanço. O Novo Banco tem o fundo avaliado a 570 milhões e a Oitante a cerca de 158 milhões de euros, segundo as nossas fontes.
Segundo os relatórios e contas, o Novo Banco tinha a 31 de dezembro de 2019 no FLIT SICAV 279.515 unidades de participação, com o valor de balanço de 197,744 milhões de euros, tendo sido constituídas 14,9 milhões de euros em imparidades.
Mas no primeiro semestre de 2020 o Novo Banco tinha 280.225 unidades de participação do FLIT SICAV. Participação que tinha como valor de balanço 164,042 milhões de euros, depois de imparidades de 14,9 milhões de euros.
O BCP, por sua vez, no fundo FLIT-PTREL reporta a 31 de dezembro de 2019 um valor bruto da sua participação de 285,508 milhões de euros e um valor líquido de 239,767 milhões de euros, depois de registar imparidades de 45,741 milhões de euros. O capital subscrito era à data de 241,358 milhões de euros, igual ao capital realizado.
Mas a 30 de junho de 2020 o valor bruto da exposição do BCP ao FLIT-PTREL é de 286,164 milhões de euros. Sendo o valor líquido de 223,091 milhões euros depois de imparidades de 63,073 milhões de euros.
A Oitante, sociedade que ficou com ativos do Banif, só reporta dados de 2019. Nesse ano, segundo o seu relatório e contas, a exposição ao FLIT era de 43,738 milhões de euros (capital subscrito), número igual ao capital realizado.
Já a CGD reporta no relatório e contas de 2019 uma exposição ao fundo FLIT de 205,398 milhões de euros. Em junho de 2020 o valor reportado é de 205,941 milhões de euros.
A Caixa tem exposição a vários fundos de reestruturação e não apenas aos geridos pela ECS Capital. Segundo o relatório e contas tem unidades de participação ainda do Fundo Imobiliário Aquarius; do Oxy Capital, SCR; do Fundo Imobiliário Vega e do Vallis Construction Sector.
Na apresentação de resultados do terceiro trimestre de 2020, Paulo Macedo, CEO da CGD, respondeu à questão da exposição do banco a fundos de reestruturação, dizendo que o banco tem uma exposição a esses fundos de 470 milhões de euros, depois de ter feito imparidades no segundo trimestre, e adiantou que reforçou no terceiro trimestre as imparidades em 36 milhões de euros para a exposição a estes fundos.
Qual é a exposição de cada banco ao fundo Fundo Recuperação Turismo?
Noutro fundo da ECS Capital, o Fundo Recuperação Turismo a distribuição das unidades de participação, dá ao BCP 38,9% do fundo; à CGD 5,9%; ao Novo Banco 36,6%; ao Santander 15,9% e à Oitante 2,7%.
A data de constituição deste fundo é de fim de 2012 e a maturidade é até dezembro de 2026 (prorrogável até 2032).
Trata-se de um fundo que se caracteriza pelo investimento em sociedades com elevado potencial de desenvolvimento e valorização, que desenvolvam a sua atividade nos sectores do turismo e imobiliário. Nesse âmbito foram adquiridos ativos, créditos e participações das empresas inseridas no anteriormente denominado Grupo Carlos Saraiva. Destacam-se entres os ativos do fundo as unidades hoteleiras do Pólo Salgados /Pólo São Rafael situados em Albufeira, Pousada Solar da Rede no Rio Douro e Morgado do Reguengo, em Portimão.
O net asset value dado pela ECS a este fundo é de 526 milhões de euros, segundo as nossas fontes. E o BCP tem o fundo contabilizado no balanço ao valor global de 494 milhões; a CGD a 452 milhões; o Novo Banco a 249 milhões e a Oitante a cerca de 163 milhões, segundo fontes do sector. Não foi possível obter até ao momento os números do Santander Portugal.
O Novo Banco tinha em 31 de dezembro de 2019 ao todo 259.646 unidades de participação do Fundo Recuperação Turismo – FCR, com um valor de 180,646 milhões de euros (valor de balanço) para o qual tinha constituído imparidades de 34,824 milhões de euros. Mas a 30 de junho de 2020, o Novo Banco reporta no seu relatório e contas 260.166 de unidades de participação do Fundo Recuperação Turismo, sendo de 90,998 milhões de euros o valor de balanço e 34,824 milhões o valor das imparidades.
Já o Millennium BCP, segundo o relatório e contas de 2019, para este Fundo Recuperação Turismo, onde o banco tem títulos sénior e júnior, o valor bruto da exposição somava 308,916 milhões. As imparidades registadas eram de 84.029 milhões pelo que a exposição tinha um valor líquido de 224,887 milhões. O BCP reporta que o capital subscrito deste fundo era 292 milhões de euros; o capital realizado 276,246 milhões e o capital subscrito e não realizado a 31 de dezembro de 2019 era de 15,754 milhões de euros.
Em junho de 2020 o valor bruto da exposição do BCP a este fundo era de 309,701 milhões de euros, e a imparidade constituída somava 117,580 milhões pelo que o valor líquido era de 192,121 milhões.
Por sua vez a Caixa Geral de Depósitos reporta no seu relatório e contas de 2019 que a sua exposição ao Fundo Recuperação Turismo era de 30,692 milhões de euros em 2019.
“A valorização dos fundos de cedências de ativos considera uma análise efetuada pela Caixa ao valor recuperável do património de cada fundo, pelo que o valor registado pode ser inferior ao respetivo NAV (Net Asset Value) calculado e divulgado pelas sociedades gestoras”, detalha o banco no relatório e contas.
Em 30 de junho de 2020, a exposição da CGD a este Fundo Recuperação Turismo já era de 26,652 milhões de euros.
Uma vez que não há dados para o Santander Totta, a última análise vai para a Oitante (ex-Banif) que em 31 de dezembro de 2019 tinha registado 20,520 milhões de euros (Capital Subscrito) do Fundo Recuperação Turismo e 19,413 milhões de capital realizado.
É de salientar que a Oitante reporta no seu relatório e contas que “em 2019 na rúbrica de Ativos Financeiros ao Justo Valor através de resultados verificou-se uma redução de cerca de 2.496 milhares de euros, que corresponde principalmente às reduções de capital ocorridas, nos fundos de recuperação FLIT – PTREL, SICAV-SIF; FCR, Turismo e Reestruturação Empresarial, parcialmente colmatada pela reclassificação de ativos ao justo valor através de rendimento integral das ações da Classe C e da Visa INC”.
O que tem cada banco no Fundo Recuperação?
Trata-se de um fundo criado em 2009 e que é composto por ativos constituídos por empresas não financeiras, atuando em sectores de atividade diversificados, nomeadamente, o têxtil, a hotelaria, a exploração de parques logísticos e industriais e a distribuição de gás canalizado. Destacam-se entre os ativos do fundo Iberol, Biovegetal, grupo Montalva/Montebravo e Hilton Vilamoura. A maturidade do fundo é 31 de julho de 2024 (prorrogável até 2028).
O Novo Banco tinha, no relatório e contas de 2019, 206.805 unidades de participação do Fundo Recuperação que estavam registadas com o valor de balanço de 74,296 milhões.
Em 30 de junho de 2020 o banco reporta as mesmas 206.805 unidades de participação, mas o valor de balanço baixa para 43,785 milhões de euros, sendo o capital subscrito e não realizado de 18,803 milhões.
O BCP por outro lado tinha registado no relatório e contas de 2019, uma exposição ao Fundo Recuperação – FCR de 270,688 milhões (valor bruto). Tendo constituído imparidades de 184,443 milhões, o que pôs o valor líquido da exposição em 86,245 milhões. O capital subscrito neste fundo é 206,805 milhões de euros a 31 de dezembro de 2019; sendo o capital realizado: 187,742 milhões e o capital subscrito e não realizado de 19,063 milhões.
“O valor contabilístico destes ativos resultou da última comunicação por parte da respetiva Sociedade Gestora relativamente ao Valor Líquido Global do Fundo (NAV) o qual, em 31 de dezembro de 2019, corresponde ao NAV com referência a essa data”, explica o BCP.
Já no relatório de junho de 2020, o BCP reporta um valor bruto da sua exposição ao Fundo Recuperação – FCR de 271,958 milhões. Tendo registado uma imparidade no valor de 193,563 milhões o que se traduz num valor líquido da participação neste fundo de 78,395 milhões de euros.
A CGD, por sua vez, tinha a 31 de dezembro de 2019 uma exposição a este Fundo Recuperação de 70,161 milhões de euros. Em 30 de junho de 2020, o valor da exposição ao mesmo fundo cai para 59,999 milhões de euros.
A Oitante revela por sua vez que em 31 de dezembro de 2019 tinha 15,608 milhões de euros de capital subscrito e 14,169 milhões de capital realizado no Fundo Recuperação, FCR.
Há uns anos os bancos realizaram um conjunto de operações de cedência de ativos financeiros (nomeadamente, crédito a clientes) para fundos especializados de recuperação de crédito. Estes fundos assumem a gestão das sociedades mutuárias ou dos ativos recebidos em colateral com o objetivo de garantir uma administração proactiva através da implementação de planos de exploração/valorização desses ativos.
Os fundos especializados de recuperação de crédito que adquiriram os ativos financeiros aos bancos são fundos fechados, em que os participantes não têm a possibilidade de pedir o reembolso das suas unidades de participação durante a vida do fundo.
Estas unidades de participação são detidas, habitualmente, por vários bancos do mercado, que são cedentes dos créditos, em percentagens que vão variando ao longo da vida dos fundos, mas em que cada participante, isoladamente, não detém títulos representativos de mais de 50% do capital do fundo.
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