Tanzânia e Moçambique Unem Esforços Para Criar Império de Hidrocarbonetos em África

Moçambique e Tanzânia assinaram recentemente vários acordos nos domínios da segurança, recursos e desenvolvimento de infra-estruturas, com destaque para a cooperação em matéria de “Exploração e Extracção de Hidrocarbonetos”. A Autoridade Reguladora das Comunicações da Tanzânia também se comprometeu a aumentar a cooperação em matéria de comunicação com a sua homóloga moçambicana através da Associação de Reguladores das Comunicações da África Austral.


Escrita Por: Administração | Publicado: 2 years ago | Vizualizações: 62672 | Categoria: Energia e Minas


Estes acordos recentes têm numerosas implicações geopolíticas que mudam o jogo. Verdade seja dita, a crescente importância de Moçambique à escala global não pode ser negada. O País tem estado entre as economias de crescimento mais rápido na África Subsaariana nos últimos 20 anos, com um crescimento médio anual do PIB real de 7,4%. Vários indicadores de progresso do desenvolvimento humano – tais como o PIB per capita, o número de habitantes pobres e a esperança de vida – melhoraram significativamente. Este forte desempenho foi ajudado pela implementação determinada de políticas macro-económicas credíveis e reformas estruturais, um ambiente externo favorável, apoio dos doadores e, nos últimos anos, a descoberta e exploração dos recursos naturais. Do mesmo modo, durante a última década, apesar do rápido crescimento populacional, a Tanzânia alcançou um crescimento económico relativamente forte e taxas de pobreza decrescentes. O país continua a ser de rendimento médio inferior, apesar da contracção global do PIB per capita induzida pela pandemia em 2020. Grande parte do sucesso do desenvolvimento do país durante a década passada baseou-se na sua localização marítima estratégica, recursos naturais ricos e diversificados e estabilidade sociopolítica, bem como no seu turismo em rápido crescimento. Nações ocidentais curvam-se perante Moçambique e Tanzânia Recentemente, tanto a Tanzânia como Moçambique começaram a explorar os benefícios dos numerosos recursos naturais, incluindo petróleo e gás, que dotam as suas terras, o que atraiu os olhos das nações ocidentais, que têm sido privadas das suas reservas de petróleo e gás desde que eclodiu a guerra na Ucrânia. Como se vê, durante anos, os grandes projectos de desenvolvimento de campos de petróleo e gás e de construção de oleodutos em África têm sido dificultados pela reticência dos bancos ocidentais e dos governos em financiar novos projectos de hidrocarbonetos, à medida que a batalha contra as emissões de carbono tem ganho ímpeto. Mas, de repente, o jogo mudou. Depois de prometer proibir novos investimentos de petróleo e gás no estrangeiro na COP26, em Novembro do ano passado, o G7 mudou subitamente de tom. E a Europa, a mesma Europa que aconselhou os países africanos a concentrarem-se nas energias renováveis e a deixarem o petróleo e o gás no solo, está agora a exigir gás. Numa tentativa de assegurar o abastecimento de gás, o Primeiro-ministro de Portugal, António Costa, anunciou, na sua recente visita a Moçambique, um aumento de 40% nos fundos atribuídos a projectos no âmbito do Programa Estratégico de Cooperação com Moçambique, numa tentativa bastante falhada de cortejar o país africano. Durante muito tempo, as nações ocidentais saquearam o continente africano para aumentar os seus próprios cofres. Mas, agora, a África começou a compreender a importância da auto-suficiência na sequência do proteccionismo global provocado pela pandemia do covid-19. Além disso, a crise estimulada pela dependência esmagadora da Europa das fontes de energia russas apenas serviu para motivar as nações africanas a começarem a afastar-se das nações ocidentais. Tanzânia e a crescente bonomia de Moçambique As autoridades tanto da Tanzânia como de Moçambique compreenderam a realidade de que só uma unidade pan-africana pode alimentar o crescimento do continente. Recentemente, o Presidente de Moçambique Filipe Nyusi disse que os dois países estavam actualmente concentrados na exploração de hidrocarbonetos, que formam os blocos de construção de fontes de energia vitais como o carvão e o gás. O posicionamento geográfico da Tanzânia facilita o transporte do gás natural para outros países, especialmente asiáticos, que estão à procura de novas fontes de energia. A Presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, congratulou-se com o acordo preliminar: “Chegámos a uma boa fase de discussões sobre o projecto GNL, mas ainda há muito trabalho à nossa espera para falar e torná-lo competitivo”. O sector dos hidrocarbonetos em África poderia ver uma rápida aceitação no desenvolvimento se estes Governos se esforçassem sabiamente e se posicionassem como alternativas atractivas para o petróleo e gás. Outro factor que conta a favor de África é o facto de a procura interna de hidrocarbonetos em países como a Tanzânia e Moçambique se manter provavelmente forte, mesmo depois da transição de muitas economias avançadas para fontes de energia renováveis, o que apoia o argumento do investimento a longo prazo. Um facto importante a assinalar aqui é que enquanto Moçambique tem 100 triliões de pés cúbicos de reservas comprovadas de gás – o que poderia potencialmente colocar o país no topo da lista de produtores de GNL no mundo – sendo que a maior parte daquela matéria-prima está localizada ao largo das costas da província de Cabo Delgado, no Norte do País, onde operam grupos insurgentes. Durante muito tempo, os governos ocidentais assumiram que, para Moçambique aproveitar estas riquezas, teria de eliminar os grupos terroristas, o que “inadvertidamente” necessitaria de assistência ocidental. Contudo, as nações desenvolvidas do Ocidente subestimaram a crescente resiliência de África. Sem dúvida que Moçambique reconheceu a ameaça à sua soberania e aos seus recursos naturais ao permitir que os países ocidentais combatessem o terrorismo no seu território. Como resultado, foi prudente procurar a assistência de países africanos semelhantes. Tendo esta realidade em mente, Moçambique e Tanzânia assinaram também dois acordos de cooperação em Maputo, centrados no combate ao terrorismo e na luta contra a criminalidade. Os países africanos reconhecem que a agitação que aflige o norte de Moçambique pode, ocasionalmente, alastrar pela fronteira, pelo que qualquer decisão de avançar com o projecto on shore será igualmente tomada em relação à situação de segurança. Os sistemas políticos e económicos africanos sempre foram anexos aos sistemas políticos e económicos globais, ficando para trás no avanço socioeconómico e político global durante séculos. Os africanos há muito que suportam o tratamento discriminatório que recebem dos países ocidentais. No entanto, estão agora a retaliar contra a atitude condescendente e paternalista das nações ocidentais. Os países africanos estão conscientes do valor do auto-determinismo e da auto-suficiência no ambiente político e económico contemporâneo. Fonte: Diário econômico - diarioeconomico.co.mz/2022/10/05/oilgas/tanzania-e-mocambique-unem-esforcos-para-criar-imperio-de-hidrocarbonetos-em-africa/
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