Há crise de financiamento em Moçambique – defendem economistas

Economistas e gestores empresariais queixam-se da crise de financiamento que afecta a economia moçambicana nos últimos tempos, devido ao elevado custo do dinheiro no sistema financeiro nacional, motivado pelas políticas monetárias restritivas tomadas pelo Banco de Moçambique e não só.


Escrita Por: Administração | Publicado: 1 year ago | Vizualizações: 138254 | Categoria: Tecnologias


“Há crise de financiamento em Moçambique”, afirmou o economista-chefe do Millennium bim, Oldemiro Belchior, durante o briefing económico organizado na última quinta-feira, (03) em Maputo, pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA). Segundo Belchior, concorrem para a crise no financiamento à economia as medidas restritivas que vêm sendo tomadas pelo Banco Central, com o objectivo de reduzir o elevado custo de vida, com a subida generalizada de preços de bens e serviços (inflação), em todo o país. Trata-se de medidas de aumento da taxa de juro de política monetária (vulgo taxa MIMO), e as reservas obrigatórias (em moeda interna e externa) que, no primeiro semestre de 2023, subiram em mais de 28.5 pontos percentuais, facto que originou o aumento da prime rate em 90 pontos bases. Falando numa plateia de perto de 200 participantes, em presença física e remotamente, o economista, que também é membro do conselho directivo da CTA, deu a entender que, apesar de as medidas do Banco de Moçambique serem bem-vindas para estancar a inflação, estão a encarecer o dinheiro no sistema financeiro, o que leva os empresários a recearem contratar novos empréstimos para investir nos seus negócios. Para defender o seu pensamento, Belchior recorreu aos dados sobre crédito à economia do próprio Banco de Moçambique. Ilustrou que, em Maio último, os bancos concederam no geral 298.2 mil milhões de Meticais em empréstimos à economia, valor que representa um crescimento de 7.8% se comparado com igual período de 2022, em que o Banco Central registou um crédito total à economia de 276.6 mil milhões de Meticais. Contudo, ilustrou que, do crédito total concedido à economia no primeiro trimestre deste ano, 171.2 mil milhões de Meticais foram destinados ao sector produtivo, as empresas, verba que representa um aumento de apenas 1.5% se comparado com igual período em que os bancos concederam 168.6 mil milhões de Meticais. Com esses dados percebe-se que o financiamento às empresas foi quase insignificante e demonstra receio da classe de contrair novos empréstimos porque os juros são caros. Antes da intervenção de Belchior, num evento em que se debatia o desempenho da economia no segundo trimestre de 2023 corrente, falou o economista e Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), Salim Valá. Apresentando o desempenho da BVM naquele trimestre, Vala disse mesmo: “nenhum empresário recorreu ao BVM para se financiar e, como consequência, no segundo trimestre, o indicador da bolsa de financiamento à economia foi negativo”. Entretanto, disse que os outros indicadores, como capitalização bolsista, registaram desempenho positivo. Para além das medidas de política monetária, Valá acusou o impacto da crise do conflito entre a Rússia e a Ucrânia que dura há mais de um ano e sem fim à vista. Além desses factores, o economista-chefe do Millennium bim acrescentou que concorrem para a retracção do investimento na economia nacional “o elevado custo de captação de depósitos, suportado pelos bancos comerciais; poupança reduzida e poder negocial dos investidores institucionais; risco de crédito decorrente do incumprimento, numa altura em que há elevado índice de crédito malparado no sistema; assimetrias de informação e falta de colaterais, bem como as pressões fiscais resultantes dos encargos da dívida pública”. (Evaristo Chilingue) Fonte: https://cartamz.com/index.php/economia-e-negocios/item/14469-ha-crise-de-financiamento-em-mocambique-defendem-economistas
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