Cada vez que você é infectado por uma bactéria ou vírus, seu sistema imunológico trabalha para criar formas de derrotar o inimigo. Molecularmente únicos para cada pessoa, esses anticorpos ou destroem esses invasores ou os marcam para que outras células matadoras os rastreiem.
Escrita Por: Administração | Publicado: 3 years ago | Vizualizações: 34 | Categoria: Negócios
Carl Hansen, 46 anos, descreve o processo de forma entusiasmada em uma conversa via Zoom. “Podemos fazer 100 trilhões de anticorpos diferentes”, ele exclama. “O sistema imunológico é espetacular.”
Existe um motivo pelo qual isso pode soar mais como um cientista falando do que como o CEO de uma empresa de biotecnologia avaliada em US$ 13 bilhões. Até 2019, Hansen foi de fato um professor universitário, quando decidiu se dedicar à AbCellera Biologics, sediada em Vancouver, fundada em parceria com colegas pesquisadores da University of British Columbia, em 2012. “As universidades são muito boas em testar novas ideias e em descobrir qual caminho pode ser eficaz”, diz ele.
A vertente acadêmica da equipe teve papel muito importante. Quase todas as startups de biotecnologia desenvolvem diversos alvos de tratamento, depois passam os próximos oito a 12 anos desenvolvendo esses medicamentos na esperança de levar um deles para o mercado. Mesmo assim, não há nenhuma certeza de que dará certo, sendo que menos de 10% das novas drogas completam essa jornada. Mas quando isso acontece, os medicamentos tendem a ser sucessos de bilheteria. Sete dos dez remédios mais vendidos em 2018 foram tratamentos com anticorpos, incluindo o imunossupressor Humira da AbbVie, com uma receita líquida avaliada em US$ 19 bilhões, e o medicamento contra câncer da Merck Keytruda, que gerou US$ 11,1 bilhões em 2019.
A AbCellera adota uma abordagem totalmente diferente. Em vez de tentar construir uma empresa farmacêutica verticalmente integrada, ela se concentra exclusivamente no processo de descoberta. Essa é a parte do desenvolvimento de medicamentos mais importante: é lá que as perspectivas de tratamento mais promissoras são selecionadas, submetidas aos primeiros testes de laboratório e, em seguida, movidas pelo pipeline.
Em maio, a AbCellera levantou US$ 105 milhões de investidores como Peter Thiel, Universidade de Minnesota e OrbiMed. Segundo o PitchBook, a empresa teve uma valorização de US$ 4,8 bilhões apenas seis meses antes de abrir capital. A empresa oferece o que pode ser descrito como “descoberta de drogas como um serviço” e trabalha com 90 empresas externas, incluindo as gigantes farmacêuticas Pfizer, Gilead e Novartis. Essas empresas pedem que a biotecnologia encontre anticorpos que atendam a certos critérios, e por sua vez, a AbCellera usa sua tecnologia patenteada para chegar a descobertas que tenham potencial.
Em seu maior sucesso até agora, a AbCellera examinou milhares de anticorpos derivados do sangue de pessoas que se recuperaram da Covid-19 para identificar os anticorpos que melhor trabalharam no combate ao vírus. Em seguida, entregou os anticorpos mais promissores para a empresa farmacêutica Eli Lilly. Os ensaios clínicos de um desses anticorpos, o bamlanivimab, começaram em maio, apenas 90 dias após o início da parceria. Os testes revelaram que pacientes com casos leves ou moderados tiveram bons resultados e em novembro o FDA autorizou o uso emergencial do anticorpo.
O governo norte-americano fechou contrato para a compra de 950 mil doses do medicamento por US$ 1,2 bilhão. A Eli Lilly emitiu diretrizes em meados de dezembro e espera obter até US$ 2 bilhões através de tratamentos para Covid-19, principalmente pelo uso do bamlanivimab. Segundo o Credit Suisse, a AbCellera, que contabilizou US$ 25 milhões até o final de setembro de 2020, receberá royalties estimados em US$ 270 milhões sobre essas vendas.
A AbCellera também espera acelerar o tempo que leva para desenvolver os tratamentos com anticorpos. Um prazo mais curto economiza milhões em custos de desenvolvimento e permite que os rendimentos apareçam mais cedo. “De uma perspectiva financeira, cada ano que você economiza é um enorme custo de oportunidade para os investidores”, diz Gal Munda, analista da Berenberg Capital Markets.
Após o grande IPO da empresa em dezembro do ano passado, Hansen agora tem patrimônio estimado em US$ 3 bilhões. Questionado sobre esse crescimento, o fundador afirma que “parece um pouco surreal”, mas demonstra mais articulação sobre o sucesso da biotecnologia: “Para mim, este exemplo da Covid-19 é a prova do modelo de negócios e da tecnologia”.
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